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A opinião do GLOBO.

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No dia 15 de abril, professores de universidades federais, institutos e centros federais de educação tecnológica decidiram entrar em greve. No rol de reivindicações, estão reajuste salarial, reestruturação de carreira, recomposição orçamentária e pautas políticas, como a revogação da reforma do ensino médio.

Passadas duas semanas sem que governo e sindicatos tenham chegado a um acordo, parte das instituições permanece funcionando precariamente. A greve não tem adesão plena. Em alguns lugares, tanto professores quanto técnicos administrativos pararam. Noutros, somente técnicos ou somente professores. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das maiores do país, docentes continuam dando aulas, enquanto servidores estão em greve. A situação se repete noutros lugares. Paralisações atingem pelo menos 52 universidades, 79 institutos federais e 14 instalações do Colégio Pedro II. A cada dia surgem novas adesões à greve.

Não é apenas a recomposição salarial que está em jogo na queda de braço entre docentes e governo. Há forte componente político. A greve dos professores tem sido incensada pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), um enclave do PSOL que disputa hegemonia na esquerda. Não é por acaso que a pauta de reivindicações inclui bandeiras políticas como a rejeição à reforma do ensino médio.

É incerto dizer quando as universidades voltarão à rotina. Professores e técnicos rejeitaram proposta apresentada pelo governo, que previa reajuste apenas em 2025. Está tudo praticamente na estaca zero. Certo é que os maiores prejudicados são os alunos, com quem os grevistas não estão nem um pouco preocupados. Não bastassem as perdas significativas durante a pandemia com as escolas fechadas, agora sofrem o baque da greve. No ensino médio, estudantes temem ficar em desvantagem no Enem. Nas universidades, a preocupação é atrasar a formatura e a entrada no mercado de trabalho.

As perdas não se restringem ao aprendizado. A greve atinge as universidades depois de um período de esvaziamento orçamentário. Algumas mal têm recursos para pagar as contas básicas. Como a greve afeta também setores administrativos, serviços oferecidos aos estudantes foram interrompidos. Há casos de universitários sem acesso ao bandejão que não têm dinheiro para comer fora do campus.

A greve oportunista, organizada por sindicatos mais preocupados em fazer política que em melhorar a qualidade do ensino, acaba se voltando contra os alunos, as universidades e os próprios professores, uma vez que contribui para esvaziar e desprestigiar as instituições ainda mais. Quem vai querer estudar em universidades que sistematicamente passam parte do ano paradas por greves sem razão de ser?

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