Por Thaiza Pauluze, GloboNews e g1 SP


Renato Feder, secretário da educação, e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo — Foto: Rodrigo Rodrigues/ g1

O governo de São Paulo incluiu um vídeo do MBL (Movimento Brasil Livre) sobre grêmios estudantis em uma das aulas disponibilizadas nas apostilas digitais de língua portuguesa da 2ª série do Ensino Médio.

Os slides com o vídeo do movimento político foram produzidos pela Secretaria da Educação, comandada pelo secretário Renato Feder. Questionada, a pasta afirmou que o conteúdo já foi removido e apura o caso.

"A Secretaria da Educação informa que a referida aula foi retirada da plataforma e seu conteúdo completamente editado a fim de se adequar aos protocolos pedagógicos da rede. Uma apuração preliminar foi instaurada para responsabilizar os envolvidos e um novo protocolo de revisão de aulas e demais conteúdos foi estabelecido."

O vídeo estava dentro do material “Ler para conhecer: protagonismo na escola”. A ideia, conforme relatado na própria cartilha, era “refletir sobre a importância do grêmio e do protagonismo juvenil na escola”.

Publicado em 2019, o material do MBL fazia parte do projeto “MBL Estudantil”, um braço do grupo, lançado naquele ano, para rivalizar com a União Nacional de Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), além de "combater" o que eles chamam de “doutrinação” de professores.

Nas imagens, a narradora fala sobre as funções dos grêmios estudantis e como eles funcionam. Em seguida, ela comemora a expansão do MBL nas escolas do país.

"Hoje, o MBL estudantil já está em mais 3.000 escolas e nós já temos oito grêmios estudantis que os nossos alunos já ganharam", diz ela, que se apresenta como Julia.

Segundo o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), um dos fundadores do MBL, o grupo voltado aos jovens foi extinto porque era “desnecessário termos um braço estudantil já que naturalmente boa parte do nosso público é estudante”.

Ele ainda afirma que no ano seguinte, em 2020, o movimento se dedicou a lançar a Academia do MBL, com cursos sobre fake news e formação de novas lideranças.

Representação no MP

A deputada estadual professora Bebel (PT) entrou com uma representação no Ministério Público pedindo providência sobre o conteúdo, com responsabilização dos responsáveis pela sua elaboração e suspensão da sua distribuição.

No documento, ela argumenta que "as escolas estaduais não podem fornecer material didático, apostilas ou qualquer outro de conteúdo oficial, com relação a qualquer assunto que seja, que possa veicular propaganda de partidos políticos ou de grupos que, de alguma maneira, possuam linhas ideológicas. O ensino público não deve professar doutrinas estabelecidas em prol de determinado modo de pensar, seja esse qual for".

Recuos, polêmicas e erros em material

A gestão de Feder é marcada por diversas idas e vindas e polêmicas à frente da educação estadual.

No ano passado, o governo chegou a anunciar que não iria aderir ao material didático e pedagógico do Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD), do Ministério da Educação (MEC), e que a rede teria apenas conteúdo digital, e não mais livros impressos, a partir do 6º ano do ensino fundamental.

Após a repercussão negativa, porém, a gestão de Tarcísio recuou nas duas decisões: voltou a aderir ao programa e a oferecer livros impressos.

Em setembro de 2023, a Justiça de São Paulo mandou a Secretaria estadual da Educação suspender a liberação do material didático digital após terem sido constatados graves erros no conteúdo.

Um dos slides afirmava que a cidade de São Paulo tem litoral. Em outro, constava que a água pode transmitir Parkinson, Alzheimer e depressão caso esteja contaminada por mercúrio, agrotóxicos, remédios e produtos químicos em geral.

Já na disciplina de matemática, em aula para o 6° ano do ensino fundamental, foi encontrado erro em uma conta básica de divisão. Em vez de 36 dividido por 9 ser igual a 4, o resultado apontava 6.

Inteligência artificial

No mês passado, o governo de São Paulo anunciou que planeja implementar um projeto-piloto para utilizar uma plataforma de Inteligência Artificial, como o Chat GPT, nas atualizações do material digital usado por professores dos últimos anos do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e do ensino médio.

A secretaria diz que a IA será usada para aprimorar aulas já produzidas "com a inserção e novas propostas de atividades”, e que o conteúdo gerado passará pela avaliação e edição dos professores em duas etapas diferentes, além de checagem de direitos autorais e de design.

O governador defendeu o uso da tecnologia "para facilitar a nossa missão".

A decisão é alvo de críticas de educadores e especialistas em educação, que temem a substituição dos professores pela ferramenta e o empobrecimento do ensino, além de aumentar a possibilidade de erros e informações inverídicas.

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